segunda-feira, 4 de julho de 2011

A propriedade contra a pobreza

A propriedade contra a pobreza
| 27.12.2007
O economista peruano critica Hugo Chávez e diz que só a economia de trocas permite a criação e a distribuição de riquezas

Philip Hall/WPN

De Soto: presidente Hugo Chávez engessa o crescimento econômico da Venezuela
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Por Angela Pimenta
EXAME Admirado pelo ex-presidente americano Bill Clinton e pela revista The Economist, Hernando de Soto assessora há 30 anos governos de países emergentes na adoção de políticas de inclusão social. De Soto se diz otimista com o futuro da maioria dos latino-americanos.
1 - A derrota do presidente Hugo Chávez no plebiscito para alterar a Constituição da Venezuela pode indicar seu declínio?
A derrota mostra que ele não é mais invencível. Por outro lado, Chávez pode ter se fortalecido, porque até seus opositores reconhecem que os plebiscitos são democráticos e justos.
2 - Como o senhor avalia a política social de Chávez?
Ele tem concedido títulos de posse aos venezuelanos de baixa renda. Mas as concessões do presidente não têm valor comercial, não podem ser transacionadas. Elas engessam a engrenagem capitalista, fonte de inovação e crescimento econômico.
3 - Para o senhor, "não importa se você é democrata ou ditador, de direita ou de esquerda; se você fomentar a exclusão, vai acabar desestabilizado". Isso se aplica a Chávez?
Aplica-se a qualquer líder. Hoje, países tão diversos quanto Etiópia ou Afeganistão sabem que o melhor instrumento de combate à pobreza é a criação de direitos legais para a propriedade privada.
4 - Por que propriedade privada é essencial para o crescimento?
Porque ela gera riqueza. A cadeia produtiva de um lápis tem 160 fornecedores diferentes. A madeira, o grafite e a cola são transportados e fundidos por um grupo de pessoas. Isso só acontece se elas tiverem garantias de propriedade.
5 - Que países latino-americanos têm avançado mais na proteção à propriedade privada?
O Brasil está no caminho certo. México, Guatemala, República Dominicana, Haiti, Honduras e Panamá pediram ao Banco Interamericano de Desenvolvimento e a mim novos programas de criação de direitos de propriedade fortes. No Peru, o presidente Alan García diz que sua prioridade em 2008 é estabelecer direitos de propriedade para recursos nacionais.
6 - Em 2006, o senhor defendeu o tratado de livre comércio entre Estados Unidos e Peru. Continua otimista em relação ao acordo?
Os tratados de livre comércio têm beneficiado os latino-americanos. Mas, para funcionar no Peru, a indústria local precisa modernizar-se. Se isso não acontecer, teremos uma situação como a do México: as exportações crescerão, mas parte da população não se sentirá beneficiada e será contrária ao acordo.
7 - Apesar do desaquecimento da economia americana, o Brasil pode continuar a crescer graças à expansão do mercado interno?
Sim. No Peru, o valor dos bens informais alcança 90 bilhões de dólares. O investimento estrangeiro recebido pelos peruanos nos últimos 20 anos chega a 15 bilhões. Se legalizarem a economia, Brasil e Peru podem manobrar a crise americana.

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