17/01/2012
Lixo vira carvão em usina de MG
Lixo vira carvão em usina de MG
A cidade de Unaí, em Minas Gerais,
vai testar este ano uma tecnologia que surgiu no fundo de um quintal e
promete acabar com o lixão do município. Em vez de serem aterrados, os
resíduos orgânicos das casas dos 80 mil habitantes serão separados dos
recicláveis e, dentro da nova usina, transformados em carvão. No fim do
ciclo, o carvão vira matéria-prima para for-nos da indústria, por meio
de um processo que já está atraindo olhares de pesquisadores da Europa e
África.
A aposta é da prefeitura da cidade,
que será a primeira a adotar a tecnologia do projeto Natureza Limpa,
criado a partir da proposta de um pequeno empreendedor mineiro, Mário
Martins, em parceria com pesquisadores da Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (PUC-GO). Segundo o prefeito de Unaí, Antério Mânica,
os testes já foram feitos e só falta a licença de operação do órgão
ambiental, para que a usina comece a funcionar:
- O lixo é um grande problema no
nosso município, são cerca de 70 toneladas por dia. Já aterramos o
antigo lixão de Unaí, com gastos de R$ 600 mil, mas não resolveu, porque
começou como lixão e nunca vai ser um aterro como deveria. Os catadores
também não saem de lá, porque não têm alternativa. Com a usina, vamos
empregar os catadores e o lixo vai virar carvão.
Mário Martins, idealizador da ideia, é
um dos habitantes de Unaí, incomodados pela presença do lixão, que já
ocupa dez hectares e acaba favorecendo a disseminação de doenças.
Segundo ele, a ideia de carbonizar o lixo surgiu de uma forma bem
simples:
-Imagina que você está fritando um
bife e vai tomar um banho. Quando voltar,é capaz de você encontrar um
pedaço de carvãozinho. Foi pensando nisso que veio uma luz. E, em Unaí,
vamos processar cerca de cinco toneladas de lixo por hora.
O sistema começa numa coleta
seletiva, que será implantada pelo município. O lixo que chega à usina
vai para uma esteira, passa por uma secadeira, é peneirado e depois vai
para outra esteira, onde catadores separam os recicláveis que restarem
do lixo orgânico. Depois disso, os resíduos são carbonizados,
compactados e resfriados.
O resultado final do processo são
briquetes de carvão, prontos para serem usados em fornos de
siderúrgicas, cerâmicas, e outros ramos industriais. Trata-se de uma
espécie de carvão vegetal, alternativa à queima de madeira por essas
indústrias. Atualmente, boa parte da madeira e carvão utilizados são de
locais reflorestados, mas, ainda assim, é um processo que depende da
derrubada de Florestas. A proposta do projeto Natureza Limpa é acabar
com isso por meio do lixo. A tarefa não é fácil, e ainda é preciso
verificar se tudo dará certo em grande escala, mas é uma alternativa ao
grave problema dos resíduos sólidos no país.
A usina que serviu de base foi
construída literalmente no quintal de Mário Martins, mas só foi possível
reproduzi-la em modelo industrial com ajuda da equipe de pesquisadores
da PUC de Goiás, entre eles o professor Jean Marie Lambert. Economista
de formação, Lambert tornou-se especialista em mercado de carbono e
Mudanças Climáticas e, com o apoio de engenheiros da universidade,
começou a estudar a geração de energia a partir do lixo. Foi a partir de
um aluno que ele chegou ao pequeno empreendedor mineiro, o que acabou
rendendo a parceria:
-Na Europa, já existem muitos
projetos de geração de energia a partir da incineração de lixo. E a
ideia da carbonização também não é novidade, mas a usina como um todo,
sim. Conseguimos fechar o ciclo, filtrando também os gases de Efeito
Estufa gerados na operação. E, se o lixo vira carvão, não se corta mais
madeira para gerar energia na indústria. Junto com o Mário, dedicamos
boa parte dos últimos três anos de nossas vidas para transformar esse
projeto numa usina real.
O investimento total inicial foi
calculado em cerca de R$ 15 milhões. A prefeitura de Unaí vai pagar pela
disposição final dos resíduos que vai custar cerca de R$ 40 a 50 por
tonelada de lixo, segundo o prefeito de Unaí. Outro benefício é o
emprego dos catadores, que passam a ter carteira assinada para fazer a
coleta seletiva da cidade e trabalhar dentro da usina. O salário inicial
será de R$ 750, para 25 catadores já contratados. A ideia é empregar 80
famílias, quando o projeto estiver recebendo todo o lixo da cidade.
A Casa da Moeda, no Rio de Janeiro,
estuda implantar o projeto. E delegações do Senegal, Portugal e
Bangladesh já estiveram na usina para conhecer o modelo do Natureza
Limpa. Especialistas estão de olho nos resultados, que serão medidos nos
próximos meses, quando o projeto entrar em prática em Unaí.
Fonte: O Globo - 17/01/2012 - www.naturezalimpa.com
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