sábado, 29 de outubro de 2011

AGUAPÉ MINHOCULTURA



AGUAPÉ


Praga em lagoas e açudes poluídos,
o aguapé pode ser aproveitado como
uma valiosa matéria-prima na minhocultura.



         O aguapé, Eichhornia crassipes, também chamada de baronesa, é uma planta herbácea, aquática, originada da América do Sul e Norte, que apresenta floração durante principalmente o verão, de cor predominantemente violeta. A planta tem folhagem decorativa sempre verde, em formato ovalado, com pecíolos cheios de cavidades com ar, que promovem sua flutuação. Por isso, o aguapé se encaixa no grupo de plantas aquáticas flutuantes, por não se fixar ao solo através de suas raízes, por desenvolver sua atividade fisiológica na atmosfera e extrair da água os elementos nutritivos que necessita. O aguapé prefere água parada como as de lagoas, açudes, represas e se mantém vigoroso e reprodutivo quando recebe muita luminosidade e povoa corpos d’água abundantes em matéria-orgânica.
         Para se multiplicarem, os aguapés soltam brotações laterais e cobrem rapidamente grandes extensões de lâmina d’água em pouco tempo: em lagoas que recebem esgotos, por exemplo, os aguapés crescem até oito por cento ao dia. Entretanto, se a proliferação for excessiva, a Eichhornia se transforma em pragas por trazer danos à sobrevivência de peixes e do plâncton, impedindo a reoxigenação, alterando o pH e decrescendo a temperatura do meio aquático. A eutrofização, excesso de fertilização da água, que ocorre geralmente pelo escoamento de dejetos de criações de animais ou de esgotamento sanitário em águas paradas, favorece a multiplicação da planta aquática, agravando os prejuízos à vida submersa.
         A geração exagerada do aguapé pode ter destinos ecologicamente corretos, seja na fertilização de cultivos vegetais, na alimentação animal, na produção de carvão vegetal, de celulose e de gás metano.
         A minhocultura é uma outra alternativa de favor ambiental e economicamente interessante à proliferação acentuada da planta. Se devidamente tratada, a orelha-de-veado, como também é vulgarmente denominado o aguapé, se transforma numa boa e barata matéria-prima para a atividade. A composição elevada de água e a estrutura arejada da parte vegetativa do aguapé contribuem para que a decomposição se processe com eficiência e rapidez.


Composição química do aguapé

         A análise da composição química do aguapé revela o nível relativamente baixo de proteína e teor elevado de fibra. A umidade excessiva da planta-aquática associada ao aspecto esponjoso contribui para uma decomposição eficiente e rápida.

Umidade
88,55
Proteína bruta
7,74
Fibra bruta
22,56
Cinzas
19,71
Cálcio
0,83
Fósforo
0,23
Acidez
3,41
Sal
2,41

         Se utilizado no minhocário semi-degradado, o aguapé confere descompactação ao substrato, favorecendo às minhocas o melhor posicionamento requerido na cópula e, conseqüentemente, incrementando os índices de reprodução do anelídeo: as minhocas passam a triplicar a produção de casulos.
         Para cultivar o aguapé, solte alguns exemplares da planta em reservatórios de água parada como açudes, lagoas e tanques, preferencialmente expostos a pleno sol. Adube a água com dejetos, como os de suínos, na quantidade de oitenta litros por metro cúbico de água por safra. Sempre imediatamente após a infestação por sobre a metade da lâmina d’água, faça a colheita de dois terços do volume de aguapés, mantendo o restante para a continuidade da propagação. Barreiras flutuantes, como garrafas plásticas unidas, coíbem a proliferação do aguapé e impedem que a planta cubra toda a extensão da lâmina d’água.
         Depois de colhido o aguapé, suas partes áreas e aquáticas devem ser desintegradas manualmente com o uso de facões por sobre um toco de madeira, ou de enxadas por sobre um piso pavimentado, ou mecanicamente, fazendo uso de picadeiras elétricas, de forma que atinjam partículas de até cinco centímetros de maior dimensão. O material desintegrado deve ser juntado em montes compridos de quarenta centímetros de altura por um metro de largura e revirados em dias alternados durante duas semanas.
         Mantenha os montes permanentemente umedecidos e, em substituição a uma rega, em cada dois metros de leira do resíduo, aplique semanalmente vinte litros de calda viva: a mistura de um litro de húmus, três litros de substrato e dezesseis litros de água.
         Uma parte do substrato do aguapé tratado deve ser misturada a outras duas de esterco também previamente tratado e a mistura final deve ser utilizada em minhocários priorizados para a obtenção de minhocas.
         Apesar dos níveis baixos de proteína e elevados de fibra na composição química do aguapé, o húmus produzido sob essas condições, mesmo misturado a resíduos de partículas maiores de planta rejeitadas pelas minhocas, tem seu valor como fertilizante.


         Depois de fragmentado e devidamente tratado por poucas semanas, o aguapé se converte numa fonte barata de matéria-prima para a minhocultura. Pura ou misturada a outros tipos de substrato, além de nutrir as minhocas, a planta aquática lhes favorece na reprodução.


Afrânio Augusto Guimarães – zootecnista / MINHOBOX
Jornal da Minhoca - edição 08 - janeiro de 1998


















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